domingo, 25 de março de 2012

Paulinho, Grande Paulinho... por João da Mata Costa


Meu amigo de sebos e bares morreu. Ninguém sabe como. Morando sozinho não
tinha ninguém para testemunhar o triste desenlace. O corpo só foi
encontrado três dias depois da morte. Um grande boêmio conhecia todos os
bares. Inconveniente algumas vezes naquilo que a solidão aporrinha e dói.
Carente nos seus tantos anos de muita farra. Tomava cana e pagava bebida
para todo mundo. Seu ultimo rastro ele deixou no sebo de Abimael quando no
ultimo sábado esteve lá - como sempre fazia - tomando sua caninha com
tangerina. A tangerina ainda estava lá, mas de Paulinho só a saudade e as
muitas lembranças.
Galanteador brincava com todas as mulheres. A algumas ele propunha
casamento. Dizia que daria tudo.  Muito simpático e bonachão, conhecia bem
a cidade que ele sorveu em largos tragos. Caia algumas vezes da cadeira.
Os donos de bar cobravam o que queria por suas doses. No antigo Bar do
Nazi ele tinha a sua cota. Todos nós tentávamos regular a cachaça de
Paulinho. Ele bebia todas e ficava inconveniente a partir da segunda lata
de Pitu. Elogiava o peito da mulher do amigo. Dizia gostar de Lenita.
Outras vezes sacava a plenos pulmões: –  eu quero o seu cú.
Aposentado do Banco do Brasil ganhava bem para viver a sua solidão. De
alguns lugares foi expulso. Certa vez isso aconteceu ao tomar banho nu na
piscina da AABB. Outra vez mijou sobre os pratos vazios e copos de um bar.
– Porra, Paulinho disse um amigo!
E Paulinho ficava só, e sua pena não era maior porque tinha dinheiro para
pagar tudo. Um dos maiores graus de loucura é quando alguém rasga ou joga
dinheiro fora – dizem os entendidos. Certa vez Paulinho foi posto a teste
e alguém o provocou – Quero ver você rasgar dinheiro! Pois, Paulinho
rebolou dinheiro fora em plena Avenida Deodoro. Outra vez amanheceu nu
numa calçada.  Essa mania de bêbado ficar nu e lascivo, nunca entendi.
Enfim, Paulinho foi embora e nos deixou mais só. Alguns ficarão sem sua
dose. Eu ficarei com a sua lembrança mais terna de alguém muito amigo e
solitário. Inconveniente para alguns. Na ultima feira de livro na UFRN ele
tomou todas e falava com cada pessoa ou aluno que transitava nos
corredores. A cidade alta perde um dos seus últimos grandes boêmios.
Aquela laranja ninguém teve coragem de comer. A cerveja de hoje estava
diferente, mesmo com todos os amigos. A caetana esgoelava suas garras.   O
cheiro de morte no ar e esse calor dos infernos de Dante.

Foto: Oswaldo Ribeiro. ORF

Um comentário:

  1. Não costumo pedir crédito, mas não custa nada lembrar que a foto é de minha autoria(:;

    ResponderExcluir