sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Ivo Filho, A poesia dos primórdios


O Doutor FRANCISCO IVO CAVALCANTI foi uma daquelas pessoas que viveram para cumprir missões. Nascido no Século XIX, no segundo semestre de 1885 ou 1886 (há imprecisão), sendo filho de Ivo Cavalcanti de Andrade, o que lhe valeu adotar o nome artístico de Ivo Filho e de Dona Vitalina Evangelista Cavalcanti.
Sobre a sua personalidade, os contemporâneos lhe atribuem predicados de homem ameno, culto e decidido, intransigente na defesa dos seus clientes. Em particular, registro o comentário do insigne causídico João Medeiros Filho, que resume todo o seu ser: “culto, desprendido, corajoso, só enxergando no processo o seu patrocinado, em favor de quem recorria a todos os meios honestos atento à máxima – o dever do advogado é salvar o cliente”.
Sua trajetória de cultura começou muito cedo, quando se diplomou professor em 1910, proferindo aulas particulares, montando um Curso com o Dr. Luiz Antônio, lecionando inúmeras disciplinas, como português, francês, aritmética, álgebra, geometria, geografia, história geral e do Brasil. Sua fama lhe outorgou o título de “Mestre Ivo”. Foi professor da Escola Normal e do Atheneu. Depois de formado foi nomeado para a Faculdade de Direito da UFRN, não tomando posse em razão da idade, mas mesmo assim, mereceu a homenagem de Professor Emérito em 1961.
Ultrapassou a idade bíblica em mais 13 anos, com vida intensa, ocupando inúmeros cargos e funções públicas e desenvolvendo o magistério particular e público até obter o grau de Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais – turma 1923, na Faculdade do Recife, quando então passou a dedicar-se integralmente ao novo ministério. Nessa profissão notabilizou-se por ter sido um dos fundadores da nossa Ordem dos Advogados do Rio Grande do Norte e seu primeiro presidente.
            Contudo, há um lado especial que desenvolveu com invulgar talento, calcado em sua cultura geral, mercê de uma rica biblioteca – as manifestações intelectuais como poeta, trovador, escritor, dramaturgo, ator, compositor, jornalista (A República, Diário de Natal e A Razão), político, teatrólogo, adotando dois pseudônimos, como era comum naquela época: Ivo Filho e Dinorah dos Santos.
Escreveu para o Teatro e foi letrista de modinhas famosas, sempre cantadas obrigatoriamente nas serenatas – Melancolia, em parceria com Miguel Pio (1912) e Súplica, com o parceiro Olympio Baptista Filho (1909), que mereceu uma gravação pela UFRN no ano de 1983, com a cantora Fátima Brito.
            Obra literária: estréia como poeta em 1906 com Crisântemos. Depois, seguidamente, Sônia, O Além, Degenerado, A infâmia é irremediável, Esses primos..., O flagelo, O motim, Em apuros, Sopa no mel, O jovem, Renúncia, Cartas para a eternidade, em 1947, Contos & troças-loucuras (em parceria com Jorge Fernandes).
                        As apresentações aconteciam, tanto no Teatro Carlos Gomes, quanto nos armazéns da Rua do Comércio, depois Rua Chile, através dos autores e atores natalenses e integrantes do ”Gymnasio Dramático de Natal” na condição de escola de teatro, inspirado no similar do Rio de Janeiro e, entre os artistas atuava Ivo Filho, juntamente com Luís Carlos Lins Wanderley, Joaquim Fagundes, Manoel Segundo Wanderley, Henrique Castriciano de Sousa, Isabel Urbana de Albuquerque Gondim, Ezequiel Wanderley, Stela Wanderley, Virgílio Trindade, Jorge Fernandes, Deolindo Lima e Joaquim Scipião, dentre outros.
Marcando o seu espírito pioneiro, foi, também, fundador da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras ocupando a cadeira 24, (que pertenceu ao seu amigo e parceiro Gotardo Neto). Criou a Oficina Literária “Lourival Açucena”, contando com a participação de grandes valores da terra, como Alberto Maranhão, Gotardo Neto, Henrique Castriciano, Ferreira Itajubá, Ezequiel Wanderley, José da Penha, Pedro Alexandrino, Antônio de Souza, Pinto de Abreu, Ponciano Barbosa, Angione Costa, Jorge Fernandes, José Gobat, Josué Silva, Antônio Glicério, João Estevão, dentre outros.
            Ingressou na Maçonaria Potiguar – lojas “21 de Março” e “Evolução 2”, logrando o grau máximo.
Em 1968 foi o apresentador da obra de Câmara Cascudo – O tempo e eu, editado pela UFRN. Nessa apresentação teceu os comentários, aqui transcritos em resumo:
“ I – Vivo fosse o professor Pedro Alexandre, não a mim caberia fazer esta apresentação ... II – Morto já, o seu primeiro professor, a mim coube a honra da distribuição dessa incumbência, pelo fato de haver sido o seu segundo, pelos idos de 1914...”
            Foi chamado de volta pelo Criador e virou estrela em Natal no dia 11 de março de 1969, deixando na memória de todos e na minha, em particular, aquela festejada casa da Avenida Rio Branco, parte integrante da geografia sentimental de Natal, onde viveu seus melhores momentos e por onde eu circulava todas as tardes, vindo do Ginásio Natal, do Professor Severino Joaquim da Silva, onde hoje existem as “Lojas Americanas”. É nome de rua na Redinha, em cujas águas bebeu inspiração.
            Neste ensejo, em sua homenagem, a família reedita “Crisântemos”, com revisão do descendente Ivo Netto, obra da qual tenho a honra de fazer esta orelha.
A propósito, ao concluir o exame do texto, me foi enviado para alguma sugestão, no que respondi:
 
Nada tenho a dizer sobre os versos feitos,
Pois no sentir dos mesmos não encontrei defeitos
Que pudessem merecer qualquer reparo.
 
Sinto-me honrado, em poder revê-los,
Na mesma proporção em que o desvelo
Inspirou um Mestre em seu regalo.

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